terça-feira, 2 de agosto de 2011

/veneno

O álcool já não adormece a dor que sinto. As drogas, essas, nunca foram uma solução possível.
Resta-me a entrega, mesmo sem destino. Sonho com beijos, com suores, estou sedento de suspiros, gemidos, de vontades, da poesia de um momento, da corte, da novidade.
Mas falta-me coragem.

/peça de colecção vulgar

Sentado no chão observo esta cidade que à noite é pintada a preto e branco e iluminada a ouro.
Espero, sem grande entusiasmo, uma nova aquisição para a minha colecção. Observo as gentes; penso de onde terão vindo e para onde se dirigem.
Nesta cidade bicolor a luz dourada torna estas personagens em elementos da minha curta desta noite... "Peça de colecção vulgar".
O primeiro plano é dirigido à nossa calçada, os brancos viram dourados; os passos apressados de quem passeia (até quem passeia se move rápido nestas ruas).
O relógio marca 22.38
A hora do encontro já passou há 8minutos.
22.42 - nada.
Interrogo-me se valerámesmo a pena a espera para juntar esta nova peça ao meu historial- à partida é vulgar, sem qualquer interesse...
22.48 - chegou.
Procura-me, olha em redor com um ar meio perdido, acende um cigarro e encontra os meus olhos à primeira onda de fumo. Atravessa a rua, é iluminado pelos faróis de um carro mais antigo que se vê obrigado a travar, desculpa-se mas não sorri. Pára à minha frente nada me diz, só me olha. Estendo-lhe a mão.
E agora?
A espera será compensada?
Escuro...
Fumo.
Muitos silêncios, poucos sorrisos, desilusão.
Como esperava a obra nem chegou a ser satisfatória. Trouxe à minha mente pensamentos antigos e a eterna questão: "Porquê?".
Interrogo-me sobre a necessidade de coleccionar estes conhecimentos e experiencias e se me farão realmente bem (como me tento convencer que sim). Interrogo-me sobre que rumo tomar e se devou ou não parar com este vício.
A desilusão já não é grande, muito menos hoje pois nunca acreditei no potencial do produto, mas fico com mais sede do vício.
Os dourados desaparecem com a chuva, os passos apressados desaparessem lentamente, fica a calçada portuguesa e o negro dos meus pensamentos embebido na esperança do verde veneno.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

/vieste ao meu camarim

ha dias em que o pano não sobe e eu não chego a ir para cena.
olho-me ao espelho, no camarim, e a máscara vai caindo.
as ilusões escorregam-me pela cara juntamente com o eyeliner e o pó modelador,o rosto descai, o sorriso desaparece e os olhos inundam-se.
ha dias em que o teatro perde todo o realismo e nem nós mesmos conseguimos acreditar na fantasia que criamos.