terça-feira, 19 de abril de 2011

/amor e perdição

Pk ék o teu nick é perdição?
Pk ék o teu é amor?
Ddtc?
Da janela k tá em frente à tua!
Não! Ès akela brasa k passa as noites a fazer abdominais?
Olha kem fala, menina “Canto e Danço em Frente ao Espelho”.
Perdição, Kalé o teu nome?
Simão, e não gozes eu sei ké piroso.
Teresa.

Teresa vira-se, neste momento, para a janela do seu quarto e acena.
Simão é aquele tipo de rapaz que qualquer rapariga da Secundária José Loureiro Botas (a que frequenta) deseja. O seu corpo musculado e moreno durante todo o ano, devido à pratica de surf, os seus olhos verdes e o seu cabelo alourado, fazem as meninas suspirarem, quando o vêem a sair da sua mota, a tirar o capacete e a ajeitar com as mãos o cabelo.
Mas Teresa, apesar do amor que sentia por ele desde criança, nunca o tinha abordado; tudo bem, foi obrigada a falar com ele quando o seu cão fugiu para casa de Simão e ela o teve de ir buscar; mas nunca teve coragem de lhe dizer o que sentia.
Simão também tinha reparado em Teresa... e oh se tinha... Quem não repara num metro e setenta de perdição, num longo cabelo negro, nuns lábios carnudos e curvas perfeitas? Mesmo só o facto de ela ser uma mulata de olhos azuis já despertava a atenção. Apenas os dezassete anos de Teresa intimidavam o jovem de dezasseis, mas agora havia ganho coragem e escolheu a Internet como forma de abordar a sua vizinha. Mas não pensem que foi só clicar no rato e “voilá”, olá Teresinha! Não... Primeiro teve de saber o “nick” de Teresa e em qual “chat” ela teclava. Para o descobrir “raptou” o intelectual da turma da mulata (um daqueles que todas as turmas têm, que tem medo de tudo e todos e responde ao que for preciso) depois foi só escolher um nick que agradasse Teresa, foi quando pediu ajuda a Mariana, uma amiga dela que era louca por Simão. Mariana disse-lhe que o rapaz pelo qual Teresa se interessaria teria de ser uma verdadeira perdição, e foi esse o nick escolhido por Simão: perdição.
Enquanto pensava nisto o jovem vê Teresa que se vira e acena. Simão sorri, fazendo com que os seus olhos meigos brilhassem de alegria.
Marcam finalmente o encontro que há tanto esperavam e confessam a ansiedade que sentem por ele. Estariam juntos por volta das 23h00 no bar perto do areal da praia.
A saída de Simão foi fácil. Após o jantar, tomou um longo duche, depois, ainda de toalha à cintura, e como ainda tinha tempo, pôs o mais recente cd dos Pearl Jam na aparelhagem e sentou-se na cadeira em frente do com#@£§"#$%!!!dor, olhando fixamente para a janela de Teresa, esperando vê-la uma última vez antes do encontro nocturno; como nada conseguiu, escolheu a sua melhor roupa, pôs o melhor perfume, fez a barba e penteou o cabelo, disse um “Adeus, não esperem por mim” aos pais e bateu com a porta, dirigindo-se para a sua moto.
Quanto a Teresa, esta passou a tarde entre vários “por favor” e “eu prometo”, tentando convencer os pais de que a saída não correria mal e que se portaria bem. Mas de nada adiantou, os pais não a deixaram ir. Por azar, tinha-se esquecido de pedir o número de telemóvel a Simão.
Desesperada telefona à sua amiga Mariana, à qual pede que vá ao encontro de Simão e lhe explique o porquê da sua ausência. Mariana aproveita este pretexto para se aproximar de Simão.
Ao chegar ao bar procura-o com o olhar, encontrando-o em frente do Barmen. Dirige-se para ele e após um “Boa noite, lindo!” e não obtendo resposta tenta fazer conversa:
- Então, por aqui sozinho?
- Não, estou à espera de uma miúda!
- Quem? Pode-se saber?
- Da Teresa.
- Pois... então tenho...más notícias para ti!... A Teresa, hoje, foi ao cinema com o João... o da turma dela. Foram ver aquele filme novo... o romântico... com aquela que ganhou um Oscar o ano passado...
Mas Simão já não a ouvia. Tudo não tinha passado de uma mentira; e uma mentira daquelas que faz partir o coração.
Devem estar, certamente à espera, caras ouvintes, que Simão, triste e amargurado vá para casa e chore e recorde eternamente este dia. Mas como não estamos no séc. XVIII, mas sim no XXI, isto não acontece.
Simão parte, sim, para uma ronda de martínies, vodkas, eristofes, imperiais e coisas que tais. Deixando-se levar pela loucura do álcool, arrasta aquela que ainda lhe dá atenção, Mariana, para a casa de banho, onde, após beijos e carícias, a roupa “escorrega” para longe dos corpos mas, apesar das intenções promiscuas de ambos os jovens, o efeito do álcool acaba com todo ... “romantismo” que ainda existia. Como era a primeira vez que tal acontecia a Simão, este veste-se rapidamente, acabando por arrancar de mota mesmo sem a camisa vestida.
Eram quatro horas da manhã e não existia qualquer movimento na estrada, Simão acelerava e pensava como tinha sido estúpido ao ponto de acreditar numa conversa de net com uma rapariga mais velha; mas ela não o ia fazer de parvo.
Ao chegar a casa, corre para a janela do seu quarto e, ao abri-la, grita a Teresa e mostra-lhe o seu descontentamento com a atitude que ele pensava que ela tinha tomado. Teresa, não percebendo, diz-lhe que a culpa havia sido dos seus pais. Simão não entende, mas também não discute pois neste momento, ambas as famílias estão à janela a reclamar o barulho e a ordenar a seus filhos que regressem de imediato aos seus quartos, prometendo uma longa conversa para o dia seguinte.
Ambos os jovens obedecem aos pais. Simão coloca os auscultadores e põe a música o mais alto que consegue. Teresa atira-se para cima da cama e chora durante toda a noite.

A Mariana contou-me o que fez.
Ela tb m ligou a desculpar-se.
Todas as miúdas são loucas por ti.
Desculpa akela cena d’ontem à noite.
Deixa lá. Mas prometes k de hoje em diante vais-te portar melhor.
Ñ digas mais nada.
Pk?
Eu preciso de pensar, toda esta história fez-me ver k sou um puto.
E?
Preciso de um tempo.

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